E agora, por obra e graça do amigo Chico Genro as fotografias tão desejadas apareceram.
Obrigado, Chico, por as teres enviado para o meu e-mail.
Tudo se passa na “mansão” do Chico Moleiro, à Costa.
Ali tem tudo o necessário: O moinho, eléctrico, já se vê, onde o Chico “mata” as saudades de tempos passados há muito;

o forno, situado nas traseiras de sua casa, onde a Maria José, sua mulher, é especialista na arte de cozer a broa, “guleimas” (boleimas), “picas” e tudo o mais que seja necessário.
O Chico e a Maria José formam uma boa equipa: ele mói o grão e transporta a lenha na sua “limousine” e ela trata do resto, o que não é pouco.
Desta vez arranjou três amigas e familiares para ajudar: a Lurdes Genro, a Lurdes do Zé Saraiva e a Ti’Emília Marcelino.
Todas elas sabem cozer o pão, pois em tempos idos, nenhuma mulher se casava sem ter aprendido esta arte.
A primeira operação foi colocar a masseira no poial e peneirar a farinha. É trabalho da Maria José que o faz com perícia.


Enquanto isto, põe o forno a aquecer e a água a ferver.

Depois de ter a água bem quente, mistura-a na farinha e começa o trabalho mais duro: amassar.


Os braços doem e o suor corre pelo seu rosto. Durante este tempo mistura o “acrescento” (fermento), sem o qual a massa não leveda.

Depois de bem amassada e bem junta na masseira, é tapada com o panal e uma manta, para que não arrefeça. Desta maneira a massa fica a fintar durante algum tempo.

Terminado esse tempo, “dá volta”, mexendo novamente a massa;
pouco tempo depois, a massa está pronta a tender.
Após varrer o forno com o vassouro

e a massa estar finta, segue um trabalho mais cuidadoso: a Maria José, com jeitos de quem sabe do ofício, pega no tigelão e baqueia a massa,

dando lhe o formato que deseja, colocando-a na “rebadoura” (pá do forno).
Uma vez aqui, com muito jeito e alumiada com a chama de pinhas que ardem à porta do forno, vai baqueando e colocando o pão na “rebadoura”, que a Lurdes Genro ou a Lurdes do Zé Saraiva vai colocando, uma a uma, dentro do forno.

A porta é fechada até o pão ficar cozido.
Algum tempo depois, por todo o forno, paira um cheiro rescendente, sinal que o pão está prestes a tirar.

Alumiadas sempre pela chama das pinhas, observam as broas e tiram uma, para poderem verificar a sua cozedura.
– Estão boas, diz a Lurdes Genro.
– Podes começar a tirá-las, Maria José, diz a Lurdes do Zé Saraiva.
Todas se aprontam para a última etapa

E então, uma a uma, vão sendo tiradas do forno vão sendo colocadas em local próprio pelas três companheiras da Maria José.
As guleimas devem estar mesmo apetitosas, mesmo sendo de bacalhau e cebola, Mas também podiam ser de carne, enchido, sardinha, e até de cebola com azeite.
Quem reparar bem nas fotos do Chico Genro, tenho a certeza que a água lhes cresce na boca.
Contentemo-nos todos, ao menos, com aquele cheiriiiiinho, que pode entrar nas nossas narinas, mesmo a grandes distâncias, segundo a nossa imaginação.
As guleimas, que se fazem em Cebola, pedem “meças” com as bolas de carne da Guarda.
Para as quatro intervenientes neste trabalho fica a certeza de terem elucidado muitas das nossas contemporâneas que nunca tinham imaginado como se coze a broa.
Sem o trabalho delas, não seria possível ao Chico Genro apresentar estas muito bem conseguidas fotos.
Um grande bem-haja à Maria José, à Lurdes Genro, à Lurdes do amigo Zé Saraiva e à Ti’Emilia Marcelina.

Para ti, Chico, para além do agradecimento, quero deixar-te o incentivo para continuares a transmitir-nos as imagens, hoje quase inéditas, da nossa vivência de Cebola.
Carlos Baptista Pereira