Caro Chico Moleiro:
Haja saúde em nossas casas. Já há um rebanho de tempo que ando p´ra te escrever, mas só hoje ékié, Chico. Passo-te a dizer que a matemática do tempo continua a infernizar-nos a paciência, um calor seco anti ciclónico que nos tem fritado o juízo com tantos graus, tantos que até os termómetros se espantam com este desgoverno de graus em pleno Inverno. Enfim, Chico, tu aí darás ao dente com o frio, aqui em S.Jorge, não, o turismo das moscas não há forma de terminar. Passo-te a dizer também que a nossa ex-estrada está a ficar um monumento do Entroncamento. A alpergata do piso está na 25a. hora, curvas descaídas  e com o azimute a descoberto, está mesmo escanzelada e vai ser devorada pelo próximo Inverno. É certo que já estão perfilados ao longo do rodapé da nossa rica estradinha centenas de pichéis de banacau para a alcatroar, mas até hoje ainda ninguém fez rascunho de aplicar aquela bendita pomada aos ossos da nossa futura estrada. É uma aflição para o Pedro, Victor e José Albino que a insultam várias vezes por dia e que se fartam de galopar para flautear os mortíferos 3 quilómetros. Parece que vão lá mandar espalhar sacos de açúcar para ludibriar os patins dos carros e não escoicinharem tanto nas curvas. Só até à Primavera. Saibas que o Sr.Faísca está a engordar muito a comer perdizes desde o dia 15. Botou férias bravas para bater  nas perdizes e nos coelhos, e... não sei quem tanto derrota nesse património que é de todos nós. Tu não te esqueças de vir 15 dias mais cedo para matar um cla de coelhos vadios que fazem picadeiro na Arre Cha e que têm o curso de estratégia campal. Trazem o juízo em água aos caçadores, que já lá espalharam mais chumbo no.3 que nem de areias tem o Deserto da Abechina. Acode lá, Chico. Saibas que a tua avó Narcisa xincou os 100 anos da escala do Sindicato. Vem admirar o céu aberto que ela dá à tua família, a cantar noite e dia ao despique com  o Rádio Altitude da Guarda.. Por enquanto não quer reclamar na Caixa nem no Sindicato, não tira chapas com nódoas brancas, nem quer deixar de ser tua avó a rir-se da crise das batatas. Podes trazer-lhe um Dumper para ela ganhar dinheiro para a tua conta do Banco. Passo-te também a dizer que a CABORA BASSA de S.Jorge, está quase pronta. A fábrica do azeite já tem o telhado de vidro cristal, as máquinas já devem vir do Fundão para cá, e vamos dar 5,5% ao capital logo neste primeiro ano. Este Lagar é uma grande obra para S.Jorge, que por todos deve ser ajudada, erguida e comparticipada. Não queiras passar o resto da vida a benzer as batatas e as couves que comes com óleo de amendoim da Shell. Está tudo a ser previsto: vê lá que até vamos conseguir que o azeite novo fique a saber à uva. Já temos um lagareiro das Mouriscas para nos vir ensinar esta ciência, e também vamos mandar alguém tirar o curso de guarda-livros na Universidade da Figueira da Foz, no Verão porque são as propinas mais baratas. Os graus de acidez que saírem a mais em cada safra serão embalados pelos sócios no banquete final de cada ano útil. O Varejão já sossegou todo o vinho novo nas adegas. Diz ele que é pouco mas bom, espirrando vitaminas explosivas e sulfato gordo de parra, um vinho inocente e bom mais próprio a ser vendido nas boas farmácias. Parabéns, Chico, a tua casa da Costa está mais viva , com pintura Robbialac. Quando chegares, vais ficar maravilhado, a olha-la com os olhos „au rallentif“. Um abraço, Chico, deste teu amigo, adeus até ao teu regresso.

Casamento

Na nossa Igreja realizou-se o casamento da menina Maria de Lurdes Branco Baptista, filha do Sr Victor Branco Baptista e da Sra. D. Piedade Duarte Baptista, com o Sr.António dos Santos Torrado, natural de Castelo Branco e cuja família agora reside no Barreiro. Foram padrinhos da cerimónia o Sr.Prof.Carlos Baptista Pereira e sua esposa  Sra.D. Maria Elisa Andrade Baptista. Os noivos trabalham na Alemanha e para lá voltaram já, onde lhes desejamos as maiores felicidades. O pai da noiva, Sr.Victor Branco Baptista deu dois banquetes cheios de coisas boas e carburante super. Olha, Herculano lá longe em Nampula, não sabes o que perdeste. Bem podias ter vindo de avião, para o Victor ter mais prejuízo e talvez o obrigássemos a telefonar para o 115 a pedir socorro de munições.