Carta de Natal aos nossos emigrantes
Caro Amigo Pinche, Nesta quadra do Natal vou às carreiras, saudar em seus sítios todos os nossos emigrantes, na pessoa do meu amigo Pinche, a trabalhar como um mouro algures em França. Irmão, mete lá uma pausa brava no teu travail, e vamos lá à conversation. Saibas que as ruas do Pombal foram alcatroadas, e os seus moradores ficaram tão agradecidos que vão aparafusar o alcatrão para um destino de ruas eternas. Os nossos parabéns aos moradores do Pombal pelo grande melhoramento. Vai tomando entretanto nota: Sporting, zero. Benfica, em 45 minutos, cinco. A vós, caros emigrantes, que não possais vir aqui, junto de vossas famílias aquecer-vos às lareiras e esmagar castanhas assadas e derrubar uns copos de vinho novo, daqui vos mando pelo amigo Pinche votos de um feliz Natal e muita alegria a descascar o dinheiro ganho com tanto sacrifício ao longo de mais um ano.Por cá em Portugal, isto vai ou racha, com revolução e em paz cá vamos a caminho do bem estar tão apetecido. O povo é estranho, lamenta-se com a falta de metal nos bolsos, mas em realidade traz os frigoríficos dos Bancos encharcados de notas. Saibas que, em linguagem pronta e janota, o dinheiro é o único amigo de todos, o dinheiro anda cá por baixo nas mãos do povo, e apetece dizer que vivemos em termos de povo rico e governo pobre. Bonito, não achas? Isto ou vai ou racha, caro Pinche. A inflação e o custo de vida é que nos desmiolam. Quando é no dia 8 dos meses cristãos, já temos de pôr um torniquete nas carteiras a tentar algemar os escudos rafeiros e vádios. Fazemos isso para poupar energia no resto do mês. Os nossos partidos políticos é que, parece, não atinam com o processo revolucionário. Eu entendo que deviam esforçar-se por tentarem conviver e não imporem-se uns aos outros. Em vez de construirmos um caminho para todos, metemo-nos numa Rotunda caminhando à volta de uma Festa, dando vivas abstractos e de costas voltadas uns para os outros. Termino por hoje, Pinche. Boas Festas de Natal, feliz Ano Novo. Abraçando-te a ti, abraço todos os nossos emigrantes com grande amizade de Natal.
Jorge
Episódios da aldeia
Mineiro de Dezembro de 1978
- Detalhes
- Escrito por: Jorge Baptista