Junto mando um dos artigos para o "Mineiro" escrito pelo meu recentemente falecido irmão Jorge.

„MINEIRO“ de JULHO 1961
 
Edital

 A linguagem no tom livre e despreocupado que caracteriza esta coluna de S.Jorge no „Mineiro“ pode alguma vez melindrar ou ferir alguém. Não está, no entanto, na mente de quem escreve tal intuito ou intenção. Faço aqui e hoje, protesto do meu mais cívico respeito a todas as autoridades constituídas nesta minha terra, a quem declaro particular estima e consideração. Até hoje ainda nao ocasionei atrito, espero merecer isso continue.

 
Diário de Bordo
 

 - O percurso do Fundao a S.Jorge foi ciclópicamente encurtado pelas benditas obras estradiárias, agora por alturas de Silvares. O Catterpilar comeu gulosamente muitos quilómetros de inútil distancia. Em contrapartida, o preço dos bilhetes subiu uma fortuna. Da estrada fizeram e levantaram uma planta de trabalhos, o novo prec,o dos papeis de ir e vir é que não tem planta nenhuma.

 - O Escaravelho está dançando o „Xá,Xá,Xá para cá. Xá,Xá,Xá para lá“ na rama da batateira, resistindo imune a todos os insecticidas excepto aos que se vendem na Loja da Eira.

 - Continua em S.Jorge a vindima da batata, que este ano é graúda, nédia, crua e sem avarias características do Entroncamento.

 - A nossa luz eléctrica é alérgica à trovoada, nao digo bem, às carícias da trovoada... mal ela pia, logo a luz ajoelha e se rindo, fazendo figura e obras de Lua Nova. Zangamo-nos com os raios que vêm de cima sobre ela , fazendo grosseiras misturas de raios no meio da impaciência, e para maior arrelia nestas noites tristes, o céu nem uma fina linha de luz deixa dependurada.

 - O Televisor que assentou praça no Clube parecia que náo bicarbonatava capazmente. Em vista disso, intimámos a Electro-Gardunha a vir cá assentar outro. Os senhores logo compareceram com outro de braçado. Prantaram ali dois diante de nós, boquiabertos para escolher. Estudámos, remirámos, medimos um e outro a palmo, tocámos com as mãos, pedimos conselho ao tabelião...

No fim das opinioes bem assentes e refogadas, o alcaide da casa perguntou:“Quereis a Nova ou a Velha?“ Nós refilámos logo: Queremos a Velha! A correr, a Ex.ma Direcão foi logo ao Tabelião botar o nome no contrato.

Jorge Baptista