Calhote – dois seixos colocados em posição paralela ou as poças feitas pelos garotos, quando jogavam ao berlinde, na Eira. No tempo em que a Eira era de terra batida.

Bilharda (Guelharda), um pau de pinheiro, com um palmo de comprimento, aguçado nas duas pontas, com inclinações opostas, para que, ao cair no chão, ficasse com uma das pontas no “ar”.
Pau – de pinheiro, com uma medida que variava entre os dois e os três palmos de comprimento.
Garotos/as – uns eram jogadores, outros juízes, outros fiscais
Reunidas as condições referidas, dava-se início ao jogo, no meio de grande algazarra.
Vou tentar descrevê-lo, da forma que me lembro.

Entre a casa da minha Tia Preciosa e a casa da Sra D. Isaura era posicionado o calhote, encima do qual, com todo o cuidado, era colocada a bilharda. Com o pau, elevávamos a bilharda e dávamos-lhes uma “castada”, ao mesmo tempo que dizíamos: ó Pim.

Quando a bilharda caía no chão, com o pau, era batida numa das extremidades, com o objectivo de a levantar e poder levar a segunda pancada, ao mesmo tempo que se dizia: ó redor.
Este procedimento era repetido por mais duas vezes, repetindo a cada pancada: Bate três; Maria Inês
Ó Pim
Ó Redor
Bate três
Maria Inês

Esta parte do jogo tinha como objectivo afastar a bilharda, o mais possível, do calhote. Esta parte do jogo era mais ou menos silenciosa…
Quando a bilharda caia, após a quarta pancada, dava-se início à segunda fase do jogo.
O pau, deixava de ser cassete, para passar a ser um instrumento de medida.
Uma das extremidades do pau era colocada junto da bilharda e o pau assente no chão. Começava a contagem:

Um… ao mesmo tempo erguia-se a extremidade esquerda do pau, ficando a extremidade direita bem presa ao chão, deitava-se o pau novamente no chão. A extremidade esquerda passava a direita e a direita a esquerda. Procedimento este repetido tantas vezes, quantas as necessárias para se chegar ao calhote.

Um, dois, três e faz 1; um, dois, três e faz 2, um dois três e faz 3; um, dói, três e faz 4; um, dois, três e faz 5 …. E, assim, sucessivamente até se chegar aos “e faz 30”.

Esta contagem era sempre feita com grande alarido. A berraria ouvia-se desde a Costa ao Rodeio, do Pombal ao Porto, passando pelo Cimo do Povo ia até ao Fundo do Povo. Tudo porquê? Porque havia a tentação de “pilhar” nas medidas. Três “medidas de pau”, se não houvesse quem fiscalizasse, depressa se transformavam em duas ou uma e meia, “medidas de pau”. Com este comportamento pretendia-se chegar, o mais depressa possível aos 30 pontos.

Quando se chegava aos 30 pontos, não queria dizer que o jogo estivesse ganho. Apenas se tinha ganho a primeira parte do jogo e estava-se em condições de iniciar a segunda parte do jogo da bilharda…